quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Notícia sobre o Brasil no "The New York Times"-(vale a pena ler)





Notícia sobre o Brasil no jornal "The New York Times"
traduzido
Brasil vive onda de crescimento enquanto economias
maiores sofrem
Alexei Barrionuevo
Em Fortaleza

Desesperada para escapar de sua existência
precária em uma das regiões mais pobres do Brasil, Maria Benedita
Sousa fez uso de um pequeno empréstimo há cinco anos para
comprar máquinas de costura e iniciar seu próprio negócio,
produzindo roupa íntima feminina.
Hoje, Sousa, uma mãe
de três filhos que antes trabalhava em uma
fábrica de jeans ganhando salário mínimo, emprega 25 pessoas
em uma fábrica modesta de duas salas, que produz 55 mil conjuntos
de roupas íntimas de algodão por mês. Ela comprou e reformou uma
casa para sua família e agora está pensando em comprar um segundo
carro. A filha dela, que está estudando para ser farmacêutica,
poderá ser a primeira pessoa na família a concluir um curso
superior.


"Você não pode imaginar a felicidade que estou sentindo", disse
Sousa, 43 anos, em sua fábrica, Big Mateus, que leva o nome de
seu filho. "Eu sou uma pessoa que veio do interior para a cidade.
Eu lutei e lutei, e hoje meus filhos estão estudando. Uma na facul-
dade e dois outros na escola. É um presente de Deus."

Hoje o país dela está se erguendo da mesma forma. O Brasil, a maior
economia da América do Sul, está
finalmente em posição de realizar seu há muito esperado potencial
como potência econômica global, dizem os economistas, enquanto o
país vive sua maior expansão econômica em três décadas.

Este crescimento está sendo sentido em quase todas as partes da
economia, criando uma nova classe de super-ricos, enquanto pessoas
como Sousa ascendem a uma crescente classe média.

Ele também concede ao Brasil uma nova imponência, lhe dando, por exemplo,
maior força para negociar os termos com os Estados Unidos e a Europa nas
negociações de comércio global.
Após sete anos, estas negociações finalmente fracassaram nesta semana,
por causa das exigências da Índia e da China de salvaguardas para seus
produtores rurais, um sinal claro da força crescente destas economias
emergentes.

Apesar dos temores dos investidores com a inclinação esquerdista do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando foi eleito em 2002, ele
demonstrou um toque leve na condução da economia, evitando os impulsos
populistas dos líderes da Venezuela e da Bolívia.

Em vez disso, ele alimentou o crescimento do Brasil por meio de uma combina-
ção hábil de respeito pelos mercados financeiros e programas sociais direciona-
dos, que estão retirando milhões da pobreza, disse David Fleischer, um analista
político e professor emérito da Universidade de Brasília. Sousa é uma dessas bene-
ficiárias.

Conhecido há muito tempo por sua distribuição desigual de riqueza, o Brasil redu-
ziu sua desigualdade de renda em 6% desde 2001, mais do que qualquer outro país
na América do Sul nesta década, disse Francisco Ferreira, um importante economis-
ta do Banco Mundial.

Enquanto os 10% que mais ganham no Brasil viram sua renda cumulativa crescer
7% de 2001 a 2006, os 10% que menos ganham
viram sua renda subir 58%, disse Marcelo Cortes Neri, diretor do Centro
de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

Mas o Brasil também está gastando mais
do que seus vizinhos latino-americanos em programas sociais, e os gastos
públicos em geral continuam quase quatro vezes mais altos que os do México
como percentual de seu produto interno bruto, disse Ferreira.

Ainda assim, o impulso de sua expansão econômica deverá durar. Enquanto os
Estados Unidos e partes da Europa enfrentam recessão e as conseqüências da
crise imobiliária, a economia do Brasil exibe poucas das vulnerabilidades de outras
potências emergentes.

Ele diversificou enormemente sua base industrial, tem imenso potencial
de expandir um setor agrícola que passa por boom e dispõe de tremendos
recursos naturais
inexplorados. Novas descobertas de petróleo colocarão o Brasil
ao lado das potências globais de petróleo na próxima década.

Mas, apesar das exportações de commodities como petróleo e produtos agrícolas
terem impulsionado grande parte de seu crescimento recente, o Brasil está cada
vez menos dependente deles, dizem os economistas, ao dispor da vantagem de
um imenso mercado doméstico - 185 milhões de pes-
soas- que está se tornando mais próspero com o sucesso de pessoas como Sousa.

Na verdade, com uma moeda mais forte e a inflação em grande parte sob contro-
le, os brasileiros estão em uma onda de gastos que se tornou o principal motor
da economia, que cresceu 5,4% no ano passado.

Eles estão comprando tanto bens brasileiros quanto um crescente número de pro-
dutos importados. Muitos empresários relaxaram seus termos de crédito para per-
mitir que os brasileiros paguem por refrigeradores, carros e até mesmo cirurgia plás-
tica de forma parcelada em anos, e não em meses, apesar de taxas de juros
entre as mais altas do mundo. Em junho, o país atingiu a marca de 100 milhões de
cartões de crédito emitidos, um salto de 17% em comparação ao ano passado.

Nas Casas Bahia, uma rede brasileira de lojas de móveis populares, o número de
clientes comprando itens a prestação quase triplicou, para 29,3 milhões de 2002
a 2007, disse Sônia Mitaini, uma assessora de imprensa da empresa.

abundância de outros sinais de nova riqueza. Em Macaé, uma cidade com reser
vas de petróleo perto do Rio de Janeiro, construtoras estão correndo para con-
cluir os novos shoppings centers e imóveis residenciais de luxo para atender a deman
da das empresas do setor de petróleo em crescimento. Em um porto em Angra
dos Reis, uma cidade conhecida por suas ilhas espetaculares, cerca de 25 mil trabalha-
dores encontraram emprego construindo as novas plataformas de petróleo brasileiras.

A Petrobras, a companhia estatal de petróleo do Brasil, espantou o mundo do petróleo
em novembro, quando anunciou que
seu campo de Tupi em águas profundas, além da costa do Rio de Janeiro, pode
conter de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo. Os analistas acham que
podem haver bilhões de barris adicionais nas áreas ao redor, deixando o Brasil atrás
apenas da Venezuela na hierarquia do petróleo da América Latina.

Apesar de o petróleo ser caro e complicado de extrair, a Petrobras disse que
espera produzir até 100 mil barris por dia de Tupi até 2010, e espera produ-
zir até um milhão de barris por dia em aproximadamente uma década.

Os novos campos de petróleo estão provocando um boom de investimento no
Rio de Janeiro, com a expectativa de que cerca de R$ 107 bilhões ingressem no
Estado até 2010, segundo o governo do Estado. A Petrobras sozinha deverá inves-
tir US$ 40,5 bilhões até 2012.

Alguns economistas dizem que uma desaceleração do restante da economia mundial, especialmente na Ásia, que está absorvendo grande parte das exportações de soja
e minério de ferro do Brasil, poderia atrapalhar o crescimento aqui. "Mas esta proba-
bilidade é pequena", disse Alfredo Coutiño, um economista sênior para Améri-
ca Latina da Moody's Economy.com.

Na verdade, como a economia do Brasil se tor-
nou muito diversificada nos últimos anos, o país está menos suscetível a uma res-
saca por causa da crise econômica americana, diferente de muitos outros na Améri-
ca Latina.

As exportações do Brasil para os Estados Unidos representam apenas 2,5% do produ-
to interno bruto brasileiro, em comparação a 25% do PIB para as exportações
mexicanas, segundo a Moody's.

"O que torna o Brasil mais resistente é o fato de o restante do mundo ser
menos importante", disse Don Hanna, o chefe de economia de mercados emer
gentes do Citibank.

Mas o restante do mundo certamente ajudou. A alta dos preços globais dos mine-
rais e outros commodities criou uma nova classe de super-ricos. O número de brasi-
leiros com fortunas líquidas que ultrapassam US$ 1 milhão cresceu 19% no
ano passado, atrás apenas da China e da Índia, segundo uma pesquisa da Merrill
Lynch e CapGemini.

Ao mesmo tempo, o presidente Lula aprofundou muitos programas sociais inicia-
dos há 10 anos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que promoveu muitas
das reformas estruturais que estabeleceram as fundações do atual crescimento
estável do Brasil.

No caso de Sousa, por exemplo, ela deve muito do sucesso de seu negócio aos emprés-
timos que obteve junto ao Banco do Nordeste daqui, um banco do governo
que concede microempréstimos para 330 mil pessoas desenvolverem negócios nesta
região em rápido crescimento.

Outros programas, como o Bolsa Família, fornecem uma pequena ajuda para milhões
de brasileiros pobres comprarem alimento e outros itens essenciais. O Bolsa Famí-
lia, que beneficia 45 milhões de pessoas em todo o país distribuindo anualmente
R$ 8,75 bilhões, está sendo muito mais eficaz em elevar a renda per capita do que
os recentes aumentos no salário mínimo, que subiu 36% desde 2003.

A natureza de baixo para cima destes programas sociais ajudou a expandir enorme-
mente tanto o emprego formal quanto informal, assim como a classe média brasilei-
ra. O número de pessoas abaixo da linha de pobreza - definida como aqueles que gan-
ham menos que US$ 80 por mês - caiu 32% de 2004 a 2006, disse Neri.

Os programas foram particularmente eficazes aqui no Nordeste do Brasil, historica-
mente uma das regiões mais pobres do país. Os moradores desta região receberam
mais da metade dos US$ 15,6 bilhões gastos em programas sociais de 2003 a 2006,
segundo a Empresa de Pesquisa Energética, uma divisão do Ministério das Minas e
Energia.

As pessoas daqui estão usando esta nova riqueza para comprar itens como televi-
sores e refrigeradores em uma taxa maior do que o restante do país. O Nordeste,
de fato, ultrapassou o Sul do país em consumo de eletricidade neste ano pela primeira
vez na história do Brasil, disse a estatal de energia.

Muitas famílias conseguiram chegar até a classe média usando o Bolsa Família para
atender as necessidades básicas, e então pedindo pequenos empréstimos para ini-
ciar seus próprios negócios e escapar da economia informal. Foi o que Maria Auxilia-
dora Sampaio e seu marido fizeram aqui em Fortaleza, uma cidade de 2,4 milhões de
habitantes. Eles recebiam pagamentos do Bolsa Família de cerca de
US$ 30 por mês, que usavam para sustentar seus três filhos. Então, há dois anos,
Sampaio usou um microempréstimo de cerca de US$ 190 para comprar esmalte e
iniciar seu negócio de manicure, que funciona em sua casa.

Hoje ela ganha cerca de US$ 70 por dia fazendo unhas - cerca de quatro salários
mínimos por mês, ela disse. Com seu próximo empréstimo, ela planeja gastar cerca
de US$ 140 para comprar uma estufa para esterilização dos alicates de unha, o
que atualmente faz com água quente.

Os frutos de seu novo negócio permitiram ao casal refazer o piso da casa e com
prar uma televisão e celular. Neste mês seu marido, que trabalha em uma fábrica
de cachaça, conseguiu realizar um sonho: comprar uma bateria para tocar.

Ele planeja usá-la para formar uma banda para tocar forró, uma música tradicional
do Nordeste. "Nós sempre comíamos e pagávamos as contas, e ele esperava e esperava",
mas finalmente conseguiu comprar a bateria por cerca de US$ 780 em dinheiro, ela
disse.

"Eu sinto como se fizéssemos parte deste grupo de pessoas que estão subindo na vida",
disse Sampaio, 28 anos. "Quando você não tem nada, quando você não tem uma profis-
são, não tem meios de sustento, você não é ninguém, você é um mosquito. Eu
não era nada. Hoje, estou no paraíso."

Mery Galanternick, no Rio de Janeiro, contribuiu com reportagem.

Tradução: George El Khouri Andolfato









Brazil, South America's largest economy, is finally poised to realize its long-
anticipated potential as a global player, economists say, as the country rides
its biggest economic expansion in three decades. The growth is felt in nearly
all parts of the economy, creating a class of super rich as the middle class expands.
Among the signs of new wealth are
oil platforms, like this one in Angra dos Reis, which are expected to help
thrust the country into the ranks of the global oil powers within the next
decade.







Photo: Douglas Engle for The New York Times





















Enviado pelo amigo Silvio L.